Domingo sem cor, leite não derramado e pés tristes.






Vinte e um anos e um metro e sessenta e cinco de solidão. Não iriam entender que vezenquando a gente fica triste sem motivo, ou pior ainda, sem saber sequer se está mesmo triste.  Pela janela aberta, o domingo impresso sem cor. Abraço minhas pernas,  e mordo levemente o lábio inferior, jeito de menina quando quer chorar. Penso que se estivesse em algum outro lugar, e que se o sol também estivesse lá fora, que tivesse alguém nesse outro lugar para me doar um pouco de colo, que se as músicas tocassem mais poesias e menos tuntz, tuntz, tuntz, não estivesse assim, com essa cara de quem comeu e não gostou, aquela cara que a gente faz depois do leite derramado, mas é pior, pois nem cheguei a segurar o leite, a abrir a geladeira, a caminhar até a cozinha. São tantos cômodos até lá, parecem que até meus pés tomaram alguma tristeza, só o que fazem é ficar um em cima do outro, encolhidinhos, buscando algum tipo de calor físico. E mal terminou o domingo, e ainda tenho uma segunda inteira para atravessar.
Samara Santos

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