Eu aprendi naquele verão o que muita gente busca a vida inteira para aprender e não aprende. A única certeza que tinha desde o momento em que colocou os pés para fora daquele hospital era a da morte, mas saiu de lá com um sorriso estampado no rosto, como se fosse o dia mais feliz da sua vida, e foi então que começaram os seus ensinamentos. Ele me ensinou que apesar de todos os apesares você tem dois caminhos a seguir, você pode ser forte e sorrir, ser feliz e tentar levar tudo para o lado do bom humor ou pode ficar triste e se lamentar fazendo sofrer a você e aos outros ao seu redor, mas com a certeza de que o fim dos dois caminhos seria o mesmo, e cabe a você decidir como irá viver os últimos passos, e ele escolheu o primeiro caminho e me levou junto para me ensinar que cada passo dado à partir de então seria único.Me ensinou que tem muita coisa mais importante nessa vida do quê sofrer por amor e que podemos não ter muito tempo para perder. Era de praxe ele perguntava todos os dias; “Se você pudesse estar em qualquer lugar agora, onde estaria?”. Eu sempre sorria para ele antes de responder; “Ao seu lado”. Ele dizia que ser amigo não era enxugar as lágrimas do outro e sim ajudá-lo a chorar, e eu achava lindo aquilo, porque de uns tempos pra cá eu vinha mantendo a linha durona, tipo “eu sou forte, eu aguento”, e tentava não chorar na sua frente, afinal, a barra de saber que poderia perdê-lo a qualquer momento, a barra de não ter mais o seu melhor amigo para te ajudar a chorar, a barra de nunca mais ouvir o riso dele, a barra de saber que teria que prosseguir pelo caminho sozinha, a cara! Essa barra eu não aguento, pra essa barra eu não forte. Mas eu tive que ser, ele me fez ser, ele dizia; “quando sentir saudade me lê, quando sentir saudade fecha os olhos e me escuta que eu vou cantar baixinho aquela música que você tanto gosta, aquela que fala assim "eu tô falando é de amizade"! Quando sentir saudade escreve um texto bem bonito, que eu vou te lê, seja lá onde eu estiver eu vou te lê, quando sentir saudade pode chorar, chorar faz bem, chorar humaniza o homem, chora o quanto for necessário e depois quando não restar mais lágrimas, ria, ria muito, ria até a barriga doer, ria até transformar o trágico em bobagem, ria das nossas palhaçadas, ria da gente”. Ele me ensinou a essência do que é ser amigo, me ensinou que ser forte é se permitir chorar, me ensinou a rir das tragédias da vida e me ensinou que você pode encarar a morte de duas formas. O verão se foi juntamente com aquele sorriso, e difícil mesmo está sendo encarar a continuidade da vida, encarar os próximos passos sem ele aqui. É meu amigo, tinha que ser agora baixinho? Você encarou a leucemia com uma rosa na mão e eu morro de orgulho de você por isso baixinho. És mais do quê ausência, és saudade! Com carinho te escrevo, com todo meu amor de sempre e um pouco mais. Como costumava dizer; “Puta que los pare forever”.
Samara Santos
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