Do leito




Já era tarde da noite, os familiares se recolhiam nos cantos da casa, esperando o momento em que o médico saísse do quarto a dizer o inevitável, de que a mulher naquela cama, de feição pálida, e de olhos entreabertos, com as mãos tremulas e a face enrugada pela vida, passara dessa para uma melhor, bateu as botas, faleceu, ou qualquer uma dessas formas que as pessoas usam para anunciar a morte de alguém. Mas enquanto o momento não chegava, e o coração continuava a bater, ainda naquele quarto, uma criança com seus dez anos de idade, olha para a mulher e passa suas frágeis mãozinhas pelos lençóis que cheiravam a alecrim, beijou-lhe a testa e sorrio docemente, e a senhora em seus últimos gestos, segurou a mão da criança e as beijou fechando devagar os seus olhos. A criança saberia então que aqueles olhos cheios de vida jamais se abririam de novo e que iria guardou para sempre aquele beijo em sua mão. 

                             Samara Santos

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