
"Todo mundo é capaz de superar uma
dor, a não ser aquele que a sente."
Foi assim que ele escreveu em seu caderno de
viagens, logo após partir, pois não poderia suportar a ideia de ficar mais um minuto
ao lado dela, sem que pudesse tocar em seus lábios, que o faziam lembrar
cerejas, daquelas que sua mãe colhia no quintal de casa para lhe fazer doce quando
criança. Se apenas seus lábios eram capazes de remetê-lo a tal lembrança, o que
dirá do resto? De suas mãos aveludadas como algodão, seus olhos que faziam das
estrelas meros pontos no céu. Não! Preferia ter seus próprios olhos ardendo
como chama ao ter que vê-la em outros braços que não fosse os seus. Então,
incompleto partiu. Pois sua amada, fora prometida a outro, e não houve nenhuma
contestação por parte dela, mas não quer dizer que ela também não o desejava
com todas as suas entranhas, ela o amava, embora nunca o tenha dito, mas ele
soube, há ele soube! Desde a primeira troca de olhares, onde os mesmos confessaram-se
apaixonados embora nenhuma palavra tenha sido dita. Mas eram tempos difíceis para
o amor. Um amor grandioso, pois não tinha medida, uma história triste, onde uma
mulher casou-se obrigada, onde um homem perdeu-se no mar de sí mesmo, onde
tinha como bússola um caderno que guardava todo o amor que um homem já sentira
por uma mulher, as folhas logo iriam acabar, mas o amor dele, esse seria
eterno. Eram tempos difíceis até para os sonhadores.
Continua...
Samara Santos